domingo, 29 de janeiro de 2012

Utilize as escadas

    Quando chegou, olhou para cima e só viu as paredes externas revestidas com mármore, o prédio tinha cara de ser antigo, mas era alto demais pra isso. A luz do sol estava forte e não foi possível enxergar o último andar. Ela estava com duas amigas, e entraram, sem conversar. A verdade é que tinham coisas para resolver na sala mais alta do edifício. O térreo era movimentado, gente indo e vindo com documentos nas mãos, as recepcionistas com telefones que não paravam, todos pareciam atrasados e sempre com pressa. Entraram no elevador, e ela reparava em cada detalhe. O prédio tinha o mesmo jeito do lado de dentro: mármore em todo lugar, via-se que tudo era antigo desde os botões do elevador até os lustres, as portas e os móveis.
    O elevador que entraram era panorâmico, e conforme subiam podiam ver os terraços e coberturas dos prédios ao lado. Quando chegaram ao último andar, as portas se abriram e podiam ver um longo e estreito corredor, novamente revestido de pedra. Andavam devagar até o escritório que estavam procurando, e mesmo não estando tão frio sentiam a baixa temperatura do corredor até nos ossos. No escritório, apenas uma escrivaninha com uma cadeira e um senhor idoso que escrevia em uma folha amarelada. De terno e gravata, tinha bochechas rosadas e era baixinho.
    -Com licença - disse uma delas, e ele parou de escrever e deu uma leve risada como se fosse uma criança.
    -Ah que bom que chegaram, agora sentem-se enquanto preparo os papéis para o casamento! - disse, ainda sorrindo, o que acentuava suas bochechas.
    -Senhor, não viemos para pegar papéis de casamento...
    -Não? Então o que estão fazendo aqui? Vão embora, vão já! – agora seu rosto era sombrio e sua voz tinha se tornado mais grave.
    Agora, saíam da sala andando rápido, entraram no elevador que ainda se encontrava parado no mesmo lugar e pressionaram o botão para o térreo. Durante alguns segundos, tudo estava bem. Ou melhor, tudo estava bem o suficiente. Ouviram estalos vindos do teto do elevador, como se alguma coisa estivesse errada, mas tudo o que elas não queriam era pensar no pior. Mais alguns estalos e o pior foi justamente o que aconteceu. Com os cabos partidos, o elevador estava solto e agora caía livremente, tão rápido que seus pés saiam do chão, até que conseguiam encostar-se no teto. Uma delas, a esse ponto, já até chorava, enquanto as outras duas tentavam se manter calmas. Tudo durou menos de um minuto, até que o painel do elevador mostrou que estavam no segundo andar. Nesse momento, prenderam a respiração e já imaginavam o que estava por vir. Para a surpresa, tudo voltou ao normal quando atingiram o primeiro andar, o que as fez cair bruscamente no piso do elevador. No térreo, as portas se abriram e as pessoas se assustaram ao vê-las enquanto ainda se levantavam.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Torcendo pela escuridão?

    Precisavam fazer algo novo para eventos do colégio, coreografias mais trabalhadas, mais perigosas e diferentes daquilo que tinham. Planejavam, inclusive, usar músicas um pouco menos populares e que eram em comum com o estilo de cada uma. Sim, estou falando de músicas no sentido de Rock n’ Roll. Tudo ia bem, treinavam muito a cada dia, por horas, e isso era cansativo, suado e pesado, mas era extremamente necessário para que o resultado fosse melhor do que qualquer outra coisa apresentada no evento, pois sabiam que existiam outros grupos semelhantes que também queriam a mesma coisa. Além disso, estavam conscientes que existia um grupo particularmente diferente. Compostos por meninos e meninas, eram mais agressivos, o que acabava os tornando atraentes, fazia com que as pessoas quisessem se tornar parte deles. Eram invejados, pois em seus ensaios, tinham sempre platéia, e eram bons de um jeito ligeiramente bizarro, em olhares e expressões vagas e sinistras, vestidos como que inspirados em Marylin Manson e outros parecidos. Intimidadores, e com motivos. Elas sentiam esse medo quando os assistiam, e algo na confiança de cada um fazia com que crescessem aos olhos, que ao final de tudo parecessem mais altos que qualquer um no ambiente.
    Então, pensando nisso, elas tentavam ser melhores em tudo. Mas não conseguiam bons resultados. Pouco a pouco, algumas desistiram. “Eu não consigo! Eles já têm tudo pronto e ainda não estamos nem na metade!”, diziam.
    No dia real da apresentação, as que sobraram não eram mais de dez, enquanto no outro grupo, o número de integrantes era em torno de cinqüenta integrantes ou mais. Nos vestiários, o nervosismo reinava, junto com o medo e a tensão. Transitavam entre cabines e espelhos, tentando deixar tudo o melhor possível. Algumas, já prontas, circulavam pelo espaço dentro e fora dos vestiários. Uma delas, assustada, voltou correndo e chorando, dizendo que algo tinha dado errado. “Eu não sei... Mas eu tenho certeza que foram eles” resmungava, desesperada.  Vomitava frases sem sentido que estavam deixando as outras preocupadas, mas ela contava alguma coisa sobre alguém ter desaparecido para livrarem-se da concorrência. Uma delas ria, achando tudo aquilo ridículo, até que ouviram um silêncio repentino vindo do corredor ao lado e passos de muita gente, vindo na direção de onde estavam. Olharam pela porta e viram, que a multidão de sombras era nada menos que o grupo que as intimidava.
    Sombras em seus rostos, agora mais sinistros do que nunca. Conforme se aproximavam, a escuridão e as sombras cobriam as paredes, até que as engoliram também.

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Obs.: Eu sei que está tosco esse sonho, mas eu lembro e tava real, portanto escrevi.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Pântano

    Voar. Um dos piores pesadelos estava se tornando realidade, aparentemente.
    -Pai, você o quê? Comprou um... Um avião? Não, isso não é possível... Só acredito vendo. – falava, ao telefone. Aparentemente era uma loucura muito grande, realmente, seu pai com um avião. Mas no dia seguinte ela viu que era verdade. Não era um avião grande, cabiam no máximo umas dez pessoas, mas não deixava de ser loucura, afinal o que ele faria com um avião? Ela não entendia.
    -É um avião, não um carro, pai!
    -Calma menina. Não fique aflita – dizia seu pai, zombando dela.
    -Não sei da onde você tirou essa idéia! Vai fazer o que com isso agora? Colocar na garagem da sua casa como se não fosse nada demais, como se fosse comum? Você é louco! – estava louca de raiva por seu pai ter comprado coisa tão absurda. Mas a surpresa era que ele tinha permissão de andar ou decolar com aquilo na rua.
    -Vamos, vamos. Estamos atrasados, vamos logo!
    -Onde, pai?
    -Pegar seus primos para voar.
    -Ah então quer dizer que além de tudo ainda vai colocar um monte de gente dentro desse mini-avião e tentar voar? Você nem sabe pilotar, isso que é pior.
    Mas não. Ele sabia, e muito bem. E na verdade, quem acabou indo voar com os dois foi sua irmã e alguns amigos, e foi divertido. Assustador, mas divertido, apesar de o tempo todo ela ficar olhando se estavam todos em segurança e nem se preocupar em olhar a paisagem lá embaixo. Até que desceram, para ocupar o resto dos lugares do avião. Ela ia junto novamente, mas por “brincadeirinha” acabaram deixando-a para trás, na rua e longe de casa. Não demorou até que o avião voltasse, mas não era seu pai quem pilotava, e sim um professor de sua escola. Seu pai agora estava como passageiro.
    -Continuamos atrasados, ouviu mocinha? Entra aí atrás e vamos logo com isso. Está faltando alguém? – seu professor estava irritado, como sempre.
    Voaram por um longo tempo, até chegarem a um lugar totalmente alagado.
    -É aqui que vamos descer. Muito obrigado, e volte na hora que combinamos, por favor. – dizia seu o professor ao seu pai, que não gostou nada da idéia.
    -Como a gente vai descer aqui, se tá tudo alagado? – perguntavam um de cada vez, de maneiras diferentes.
    -Assim. – e jogou um pára-quedas para cada um, apesar de estarem voando muito baixo. Gritou alguma coisa e pulou, fazendo sinal para todos irem também. Tomaram coragem e foram um de cada vez, pulando com cara de pessoas com medo de morrer, afogados ou na própria queda.
    Andavam por aquele lugar alagado, que estava inundado, que geralmente não era daquele jeito. Com a água que era espessa e turva na altura da cintura, levantavam os braços para desviar das plantas, de todo tipo de coisa que aparecia no caminho. Mais à frente, viam pessoas construindo casas acima do nível da água, e ela estava com medo de que tivesse algum animal naquela água que atacasse de surpresa, queria sair dali, subir em algum lugar e ficar em segurança. Pois bem, chegou a hora de subirem em uma casa para visitarem o morador. Ela estava com uma parte em reforma, e foi justamente por lá que subiriam. Pedaços de madeira serviam de andaime e apoio. Quando se apoiou em um desses, sentiu as centenas de farpas encostando nos seus dedos, e sentiu que várias entraram por sua pele. Imediatamente ela soltou, e conseguiu ver muitas farpas compridas presas em seus dedos. Tentava tirar, mas a dor era como se aquelas míseras fibras arrancassem cada dedo, como se estivessem atravessadas nos dedos e não quisessem sair.
    Entraram na casa e ela logo pediu por um banheiro para tentar achar alguma coisa lá, nem que fosse água fria para que pudesse aliviar sua dor. Chegando lá, abriu uma porta velha de madeira seguido de um pequeno portão com mais ou menos um metro de altura. Abriu os dois, e fechou-os para poder procurar algo para tirar aquilo de suas mãos, sem que ninguém visse e reclamasse. Era um banheiro que talvez fosse maior que a própria casa, era arrumado e não combinava com o lugar, pois era limpo, era novo, era bonito, parecia-se com o de um hotel. Uma banheira no meio, vários detalhes em madeira escura por todo o espaço. Enfim, revirou armários e gavetas, achando uma pinça. Ligou a torneira, lavou as mãos com todo o cuidado e sofrendo de dor, para que as farpas não entrassem mais fundo.
    Tirava-as com cuidado, mas via sangue. Pareciam comuns sendo pequenas e simples. Mas as partes que estavam dentro da pele eram mais grossas que o normal, e tiravam sangue. Por fim lavou a mão sentindo que a mão inteira ardia, queimava. Sentou-se sobre a pia e estancou o pouco que ainda sangrava com papel higiênico. Olhou pela pequena janela e só viu a paisagem alagada, pensou que talvez já estivesse ali dentro por muito tempo. Jogou o papel com sangue fora e tentou abrir a porta. Mesmo destrancada, não abria. Ela empurrava, mas continuava emperrada. Ouvia risadas dos seus amigos por fora, e então começou a gritar para que eles deixassem de brincadeiras sem graça e soltassem-na. Quando parou, não ouvia mais ninguém rindo, e não vinha mais som da onde o resto do grupo estava. Um pequeno desespero começou a crescer dentro dela, mas tentou se manter calma. Desistiu por um momento de tentar abrir a porta e virou-se de costas para a porta. Viu um amigo sentado na borda da banheira olhando para ela.
    -Cara, como você entrou aqui? – gritou assustada.
    -Abra a porta. – disse ele.
    -Não consigo.
    -Ora, tente novamente.
    Ela tentou, e a porta se abriu facilmente. Saindo de lá, viu todo o grupo ainda no mesmo lugar, com o professor ainda explicando o mesmo assunto.
    -Vejam se não é a menina das farpas! – dizia o professor.
    -Por quanto tempo fiquei lá dentro? – perguntou sussurrando a uma colega ao seu lado.
    -Ué, você acabou de entrar. Conseguiu tirar todas?
    -Sim, sim... – levantou os olhos e o amigo que apareceu no banheiro estava logo a sua frente, sorrindo inocentemente para ela.

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Obs.: Um dos mais sem sentido. A partir do trecho das farpas, tudo era embaçado, embaralhado sem a mínima ordem, as coisas se transformavam de uma hora para outra. Portanto, coloquei a ordem que achei que ficaria mais coerente, a forma que eu entendi, também.

Abatedouro

    Correndo no meio do nada, a paisagem era noturna, em algum campo onde só havia terra no chão e em toda a sua volta. A lua estava enorme, como ela nunca tinha visto antes, pois cobria metade do céu que enxergava à frente. Corria rápido, mas estava exausta, não via a hora de parar, e sabia que alguém a seguia. Mas não estava com medo, estava feliz, era uma brincadeira. Apesar de nem conseguir respirar direito de tanto que corria, ela sorria, gargalhava. De repente, não sabia se tinha entrado em alguma plantação ou se aquilo começou a crescer muito rápido enquanto ela corria. De qualquer maneira, continuou correndo com as plantas mais altas que ela mesma.
    Abria caminho na plantação, já não sabia mais onde estava e não sabia se estava correndo em círculos ou se estava se afastando de onde deveria ficar. Para sua surpresa, acabou chegando a um lugar com uma grande concentração de pessoas, todas paradas e viradas para apenas um lugar, como se estivessem hipnotizadas. Havia uma voz transmitindo uma mensagem longa, talvez por um microfone ou algo do tipo. As amigas que corriam com ela apareceram logo em seguida, vindas de outros lugares. Começaram a procurar o lugar da onde vinha aquela voz, pedindo passagem, e andando rápido, ainda. Procuravam, mas não conseguiam ver nada, de jeito nenhum, e logo todos começaram a andar em direção a uma construção que era como um galpão, que também surgiu do nada, enquanto elas andavam entre as pessoas. Decidiram acompanhá-las, para ver o que aconteceria.
    Dentro daquele lugar, não era limpo, não era muito bem iluminado. Revestimento e azulejos brancos, por toda a parte, mas sujos. Uma sujeira que parecia estar grudada. Via-se que uma parte daquilo era barro, obviamente vindo do campo. Mas e o resto? Bem, é uma pergunta que elas pararam de se fazer para ver o que aconteceria em seguida. Acontece que a voz ainda não tinha cessado, ela continuava a transmitir a mensagem, enquanto todos entravam naquele lugar. Ela parou com certeza quando o portão de ferro pesado (pintado de branco e agora amarelado pela sujeira) desceu repentinamente, e todos saíram do estado de hipnotismo e começaram a gritar, tentando socar paredes e o próprio portão, para sair. Até chegar um momento, depois de alguns minutos, que alguns começaram a desistir e se sentavam encostados nas paredes, e elas entravam em desespero por ver tudo aquilo acontecer.
    O silêncio era presente, exceto por algumas pessoas falando umas com as outras depois de mais tempo ali dentro. Já estava ficando quente, pois não havia ventilação, apenas as luzes vindas de lâmpadas grandes penduradas em fios desde o teto. Existia outro portão além daquele por onde entraram, mas era exatamente igual. Logo encima um sinal vermelho, que estava apagado, e algumas placas onde se liam coisas como “Perigo” ou “Afaste-se”. Um sinal alto ecoou pelo galpão, e o sinal vermelho acendeu. O portão abriu, e novamente a voz falava.
    -Todos vocês devem entrar aqui agora. Devem entrar apenas alguns por vez. Não disputem, há um lugar especial para todos! É melhor, vocês verão que existe outro lugar melhor que este. – todos se olhavam, não sabendo exatamente o que fazer.
     E pouco a pouco, uma pessoa ou outra entrava ali. Era uma espécie de câmara, toda molhada com marcas no chão que diziam onde cada um deveria ficar em pé. Até que o número se completou, oito que se arriscaram. O sinal soou novamente, e o portão começou a se fechar. Chegou ao chão, a luz se apagou. Gritos foram ouvidos, mas pararam rapidamente. Em poucos segundos, uma poça vermelha começou a se espalhar para fora, entrando em um ralo próximo ao portão. Mulheres choravam, outras gritavam, e não foi diferente com os homens. Água começou a jorrar do teto, numa tentativa de lavar o sangue que se espalhava por todo o lugar, pisoteado e misturado com o barro nos sapatos das pessoas. Muitos começaram de novo a tentar escapar dali, e não demorou até que a voz voltasse. A água parou de jorrar.
    -Acalmem-se. Agora eles viram o melhor lugar que existe, e é a vez de vocês! Acreditem, acreditem! – algumas pessoas voltaram a ficar no estado de hipnotismo.
    O sinal tocou novamente, e mais entraram, apesar de outros gritarem para que não fizessem isso. “Vocês vão morrer!”, diziam. Mas quem entrava estava hipnotizado por algo naquela voz, algo que provavelmente os confortava, pois seus rostos eram serenos quando o portão se fechava mais uma vez. Homens choravam ao ver suas esposas entrando como robôs, e as acompanhavam, seguravam suas mãos, apenas por quererem ficar junto a elas até o fim. E assim continuou, até não sobrarem muitos, e, além disso, as últimas mulheres eram o grupo de meninas, que não sabiam o que esperar e não entrariam naquela câmara, por não quererem que seu sangue fosse espalhado pelo galpão como em um abatedouro de animais.
    Os últimos oito homens que ainda estavam conscientes perceberam que não tinham escolha, e que elas não entrariam ali. Rezavam antes que o sinal tocasse de novo e o portão se abrisse, para a salvação de suas almas. Falavam alto, pedindo perdão aos seus Deuses.
    Elas começaram a chorar. Mas o que as surpreendeu foi que assim que o sangue dos últimos homens escorreu, o portão não se abriu novamente. O que viria agora? Seriam assassinadas uma por vez? Não, o que vinha era ainda pior. Um barulho alto foi ouvido, e era uma parede movendo-se. Esta escondia o terceiro portão em uma rampa, com a diferença que esse tinha janelas encima. Duas delas se juntaram para ver o que tinha do outro lado, apoiando-se uma na outra. Quando conseguiu subir na amiga, do outro lado da janela, ela enxergou homens, e eles a enxergaram também. Todos querendo sair, e era possível ouvir os elogios que gritavam. Aquele sinal foi ouvido novamente, e elas foram rápidas em voltarem para o lugar onde estavam. O terceiro portão se abriu, e eles vieram na direção delas, todos gritando e comemorando, quase como animais. Elas encolhiam-se contra as paredes, enquanto a maioria deles tinha maldade nos olhos e malícia nas palavras. Até que se aproximaram poucos que não estavam assim, alguns que estavam tranqüilos.
    Conversavam com elas, mas mesmo assim eram as únicas e não perdiam a desconfiança. Até que um deles falou algo como “Quando vamos dar início, meninas?”, e elas não entenderam. Perguntavam o que isso queria dizer, no que seria dado início, e eles diziam “É a função de vocês. Fêmeas, estão aqui pra isso. Novas crias para mais abate.”


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Pequeno comentário: Argh, ainda bem que eu acordei! :S

domingo, 8 de janeiro de 2012

Hear nothing, see nothing

All I hear is only
The sound of silence

When madness returns
Everything turns
Into a deep thought
Knocking at my door
The strongest possible
But escaping is not an option

Why can't I run
If I'm already free to fly?
Why only butterflies
Are like angels?

The night sky seems empty
Because stars won't shine
Where there is the presence of rain
The cold wind is now wet
By the tears of some unknown joy

Reflecting my despair
In a meaningless piece of paper
To be kept underneath of nothing
And above all

I am trying to control a storm...


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Obs.: Escrevi o que vinha na minha cabeça antes de dormir. Não sei por que escrevi essas coisas. ;s

Mudança

   Era uma área bem arborizada, um terreno grande, uma casa velha. Jardins se estendendo até onde começavam as árvores altas. Uma piscina grande, azul, rasa, atrás de uma fonte envelhecida e suja, que já não tinha mais água jorrando. Claro que é no mínimo diferente uma casa tão grande com paredes externas tão escuras, quase pretas. Mas uma cor preta meio marrom, meio avermelhada, uma cor... Sombria. Uma casa com torres, com janelas quebradas, mas ainda assim parecendo à casa perfeita para que nós morássemos. Por algum motivo, me lembrava um cemitério tudo aquilo, tinha um clima pesado, alguma coisa que me trazia pensamentos também sombrios.
    Éramos as três mulheres, após a separação. Eu também não entendia o motivo de só usarmos roupas mais “elegantes” e pretas, sempre arrumadas, como se fôssemos para algum enterro, de fato. E eu me perguntava também por que a minha mãe tinha decidido morar naquele lugar, da onde surgiu a idéia? Da onde surgiu o dinheiro (eu imaginava que um lugar daqueles devia ter custado uma fortuna)? Mas já não importava mais o que eu pensava, ia morar ali e ponto final.
     Meu pai? Meu pai morava na entrada da casa, só se chegava aos jardins por ali. Mas era diferente. Ele, também, estava diferente. Na casa que na verdade era apenas uma garagem tudo era iluminado pela luz do sol (que eu não sabia da onde vinha), branco, limpo. É claro que havia um carro, também branco, antigo, muitíssimo bem cuidado, brilhante.
Eu andava em direção ao meu pai desde a entrada da garagem olhando aquele carro, reparando em cada detalhe daquele lugar. Reparei que ele usava roupas brancas, e estava sentado com uma perna meio cruzada lendo jornal, e a única coisa que se ouvia eram meus passos.
    -Oi, pai. O que você está lendo? - Eu perguntava, tentava falar com ele, mas não tinha resposta. Ele só abaixava a folha de jornal, não tinha expressão, mas olhava nos meus olhos profundamente como se estivesse tentando se comunicar.
    Desisti de tentar uma conversa e decidi ir até a minha nova casa arranjar algo para fazer, senti que enquanto caminhava até o jardim, meu pai me acompanhava com os olhos. Subi as escadas até a entrada principal, onde havia duas estátuas de leões, uma de cada lado, pretas, é claro. Entrei na casa por aquela porta pesada, e comecei a chamar pela minha mãe. Ela logo veio, e disse que a minha irmã estava chegando pra conhecer a casa nova. Encontramos com ela no jardim, e de repente eu me encontrava animadíssima para mostrar-lhe a casa inteira. Vi a cara dela ao ver aquele prédio antigo e escuro, e ela não foi de entusiasmo.
     Ao entrar, dávamos direto na sala de estar, que era grande, com decoração também antiga, mas não tão antiga quando a própria construção. Tudo era decorado parecendo com algo congelado na década de 1960/70, com uma pitada de lugar empoeirado. Não entrei na cozinha nem na sala de jantar, mas o que consegui ver mesmo longe até das portas, me dizia a mesma coisa. Interessante era como eu via a construção por fora e por dentro, o prédio definitivamente não era igual.
    Decidimos subir para ver os quartos. A escada era toda madeira escura, corrimãos lustrosos e degraus que rangiam. Chegando ao primeiro andar, não havia corredores nem portas, nem paredes. Era um andar aberto onde se viam todos os móveis separados em cantos diferentes.
    -E estes são os quartos! - disse a minha mãe, alegre. De novo a cara da minha irmã não foi uma das melhores.
    As coisas nesse andar não eram muito diferentes em termos de cor e clima. A única coisa que mudava era que ali tínhamos carpete, azul claro desbotado com desenhos grandes de flores em marrom. A mobília era de madeira da mesma cor da escada, e as cortinas eram bem mais claras. Eu ainda não me sentia bem naquele lugar, sendo no interior ou nos jardins. Aquilo ainda não me parecia uma boa idéia, pois havia algo naquele lugar que me deixava com o estômago revirado, e eu descobri a razão assim que ouvimos um barulho vindo da escada e viramos todas juntas para olhar.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Procura-se Estômago

   Estômago, pra se ver pegando maçãs verdes brilhates na geladeira, e perceber que na verdade estão espumando de podres, mofadas e cheias de larvas e outros insetos rastejando-se nelas.
   Estômago, pra se ver em uma boate, passando por um corredor escuro e entrando em uma sala mal iluminada com um monte de drogados cheirando carreiras de cocaína quando alguém grita "Quem quiser cheirar, a hora é agora!"

   Preciso ter estômago, pra ter uma mente como a minha.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

É Sempre Igual

    É sempre uma escada, uma janela, um degrau. É sempre um precipício, um vôo que não dá certo, que seja. Sempre é um escorrego, um tropeço, um desequilíbrio que me faz cair. Sempre, sempre nessa maldita hora, sempre quando vou bater a cara no chão, me machucar, sentir dor, é quando eu acordo. Nunca consigo ver o resultado de ser desastrada. É um susto, um pulo, um tremor que me faz acordar assustada, sem conseguir pensar direito no que aconteceu. Mas é sempre um alívio saber que o precipício não era real.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Não Voltarei Para Casa Desta Vez

    Voltando da escola, ela pensava apenas em chegar em casa, e a pé a subida era longa. Dava passos longos, mas era como se nem se mexesse, e mesmo tendo andado pouco desde a escola, já estava cansada, pois sua mochila pesava. A rua estava vazia. Foi  quando sentiu o peso de uma mão em seu ombro, e quando se virou, não deu tempo de reagir: ele a jogou no chão, e suas mãos passaram do ombro ao seu pescoço, enquanto ele dizia:
    – Se não pode ser minha, não pode ser de mais ninguém.
   E seu rosto se enchia de raiva, de medo e de pena ao mesmo tempo. Ela não conseguia se soltar, ele era forte. Enquanto ela perdia os sentidos, mal podia ver o rosto dele, pois estava tudo ficando embaçado e escuro. Foi tudo muito rápido, e não teve ar suficiente para poder soltar nem apenas um grito.
   Depois de se ver naquela situação, a escuridão passou e ela estava em pé em frente a sua casa. Mas estava diferente, não estava mais presa ao seu casulo, era apenas a energia que tinha sobrado de seu corpo. Entrou em sua casa, passando pelas portas e paredes, e encontrou sua mãe, arrumando coisas na sala.
   – Mãe... Eu acho que eu morri.
   – Como assim? Você está louca? Eu estou te vendo na minha frente.
   – Mãe, aceite. Eu vim pra me despedir e te dizer que eu estou bem agora.
   – Me explique isso.
   – Eu fui estrangulada. Não consegui ver direito o rosto dele.

   – Mas...
   – Mãe, é tudo o que eu sei. Diz pra mana e pro papai o que aconteceu. Eu vou sentir saudades, mas não fiquem se preocupando comigo.
   – Tudo bem...

   – Bem... Então adeus mãe. Vim pra te avisar que não volto para casa desta vez.
   – Adeus. – e sua mãe começou a chorar, enquanto ela saía em direção à rua.
   Na casa de uma amiga, onde estavam mais três, ela foi se despedir de todas elas, e chegando lá as quatro estavam sentadas na calçada conversando.  
   – Você tá diferente... O que aconteceu? – disse uma delas, com cara de preocupação.
   A garota contou, e elas começaram a chorar.
   – Mas não pode ser! Você não pode simplesmente sair das nossas vidas! – disse outra, desesperada.
   – Foi a mesma coisa que a minha mãe me disse, mas aconteceu. Não tem mais volta. Vim me despedir, e era isso que eu temia... Ficarei com saudades.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Labirinto Claro

    Corredores infinitos, luz do Sol, mas nada de janelas. Onde está a saída? Não acaba mais, um labirinto. Socorro! Gente que grita meu nome. Olho para trás, onde estão eles? Somem. Tudo branco, girando, rodando. Corro, ando, não acho o fim disso, me canso, e sento. Não consigo pensar em nada, só em como eu parei ali. Lugar horrível e estranho.
   Vejo uma porta, abro. Vejo uma parede.